Blog da Elo - Amar.elo Saúde Mental

NÃO SE CONTENTE À MEIA LUZ

Written by Elo | 8/12/22 3:05 PM

Alguma vez você já se questionou sobre sua própria sanidade mental? Alguma vez já pensou ter visto algo estranho acontecer, sentido um cheiro ou visto algo que aparentemente ninguém mais sentiu ou viu, e começou a questionar sobre a veracidade do que apresenta seus sentidos?

Para pessoas que sofrem com alguns transtornos mentais graves, como a esquizofrenia, isso é algo recorrente, mas nem por isso menos avassalador. Já imaginou não poder confiar no que o teu próprio instinto te diz? No que seus próprios olhos veem ou seu próprio corpo sente?

Pois bem. Existem pessoas que não precisam possuir nenhum transtorno ou adoecimento mental para passarem por isso! Não acredita? Saiba que existem pessoas que levam outras a essa situação extrema, o nome disso é Gaslighting e é uma forma de abuso psicológico muito séria!

Calma que eu explico.

Em 1944, foi lançada uma grande e aclamada produção de Hollywood, adaptação de uma famosa peça teatral da época, de nome Gaslight – ou “À Meia Luz”, em português. O filme conta a história de Paula, estudante de Ópera na Itália, que conhece o irresistível Gregory, com quem passa por uma paixão avassaladora e logo se casam. Após a lua de mel, o casal vai morar em Londres, na casa de uma tia de Paula, famosa estrela da Ópera que morreu misteriosamente quando Paula ainda era criança – inclusive, foi a menina quem achou o corpo da tia, na mesma casa.

Assim que chegam na casa, Gregory manda lacrar todo o segundo andar do casarão, explicando para Paula que seria para seu próprio bem, já que foi lá que a moça encontrou o corpo da tia na infância.

A partir de então, coisas estranhas começam a acontecer. Paula começa a perder coisas, a ouvir coisas estranhas e ter sua percepção da realidade alterada. O marido passa a se irritar com os lapsos de memória da esposa e revela a todos que a mãe de Paula foi presa num manicómio, e que ela estaria perdendo o juízo tal qual a mãe.

As luzes da casa, que funcionavam nesta época a gás, passam a ficar oscilantes e diminutas, o que faz Paula achar que está sofrendo de alucinações, quando ninguém mais parece perceber o acontecido.

O que acontece, de fato, é que tudo isso foi um plano muito bem arquitetado pelo marido, Gregory, que estava em busca de um tesouro escondido no casarão – ele estava o tempo inteiro manipulando Paula psicologicamente, para fazer com que ela mesma e os outros pensassem que a moça havia enlouquecido, manipulando elementos do seu dia a dia, escondendo seus pertences e alterando a sua percepção de realidade.

Hoje, o termo é usado para descrever uma forma séria de abuso psicológico, onde uma pessoa distorce, omite ou inventa informações seletivamente para fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção ou sanidade mental. O objetivo maior é desorientar ou desvalidar a vítima, fazendo-a crer que está ficando louca e que tudo não passa de alucinação, o que deslegitimaria ou até impediria uma denúncia do abuso ou o afastamento do abusador.

Pelo perfil social, esse é um tipo de violência psicológica que costuma acontecer muito frequentemente com mulheres, que são vítimas de relacionamentos abusivos, onde o cônjuge ou namorado se utiliza do Gaslighting para prender a vítima ao relacionamento.

Você talvez esteja se perguntando, a esse ponto, o porquê de eu ter escolhido falar sobre o Gaslighting no blog hoje. A questão é que, lendo sobre o assunto, percebi o quão sério e absolutamente desesperador deve ser para alguém que está sofrendo, vítima desse abuso.

Fiquei aqui imaginando como seria para mim, passar por esse tipo de situação – e tudo que consegui pensar foi o cenário possivelmente desesperador e catastrófico. Como aguentar uma vida de se questionar sobre tudo que vê, ouve e sente, a todo instante? Como viver achando que a realidade não é essa que, aparentemente, você é a única a perceber? Isso tudo quando, de fato, você está certa e tudo é o que parece?!

Precisamos falar sobre Gaslighting. Precisamos alertar as pessoas sobre o Gaslighting, precisamos fazer todo mundo notar o Gaslighting ao menor dos sinais. Precisamos ter autoconhecimento o suficiente para perceber quando algo parecer fora do “normal”. Precisamos ter autoconfiança e força para conseguir sair fora quando frente ao menor detalhe fora do lugar.

Não nos contentemos com vidas à meia luz. Queremos vidas com luz inteira, luz forte, amarela, brilhante. Nossa luz precisa ofuscar, não deixar ser apagada, ser inteira, nunca meia.

Por isso, se algo lhe parecer estranho, se qualquer coisa parecer enfraquecer sua luz… busque ajuda. Faça terapia. Procure a luz dentro de você. Ela está aí, não a deixe apagar. Ela é sua, você a merece.