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O VAZIO DE UMA VIDA OCUPADA DEMAIS

amarelosaudemental blogdaelo 8/12/22 12:04 PM Elo 4 min de leitura

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Foi o filósofo do período clássico da Grécia Antiga, Sócrates, conhecido hoje como pai da filosofia ocidental que disse a célebre frase “tome cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais”.

Eu já conhecia essa frase, mas confesso que não sabia que era do pai da filosofia, o grande e enigmático Sócrates, e essa descoberta me fez colocar os pés descalços no chão e parar um pouco para pensar.

Sendo bem sincera, quando alguém fala o nome Sócrates para mim, a última coisa que me vem a cabeça é a figura de um homem ocupado. A primeira coisa que penso, pelo contrário, é um senhor de cachos brancos, com uma túnica clássica grega, em pé numa arena a declamar um argumento, pelos quais ficou tão conhecido, ou sentado à beira de uma macieira, treinando sua oratória e sua dialética, com um pergaminho na mão, a pensar na vida e filosofar… ok, talvez exista um pouco do imaginário midiático nessa minha ideia de Sócrates.

Mas quando penso, em oposição, a alguém com a vida ocupada demais para ser vazia… penso num homem moderno, em pleno século XXI, um homem de paletó e gravata, de “pano passado”, um homem de fones de ouvido Bluetooth conectados a um podcast de economia, que ouve enquanto dirige seu carro S.U.V., ou com o notebook debaixo do braço, a caneta no bolso do paletó, junto aos cartões de QR Code, a postos para assinar um contrato de milhares de milhões. Um empresário “de sucesso” ou CEO de alguma coisa que seja… e essa não é nem de longe a imagem que faço de Sócrates.

Acontece que, veja bem: você consegue imaginar as pessoas na Grécia Antiga sendo ocupadas demais para viver? Você consegue imaginar a si mesmo, há 10 ou 20 anos atrás, com mais coisas para fazer do que poderia aguentar?

Costumamos lembrar do passado com um saudosismo de “aquela época que era boa, que eu não tinha tudo que hoje tenho para fazer”. Mas fato é que desde a Grécia Antiga, Sócrates já achava que assumia mais tarefas do que era capaz de cumprir.

E aí, é quando alguém vem argumentar e dizer que temos muito a fazer porque a revolução tecnológica tornou tudo muito mais rápido, que eu digo: não! Estar sempre ocupado, sempre atrasado, sempre atarefado ou sempre indisponível é sempre uma escolha! Nunca é “sem querer” ou livre de ação direta.

Se eu sinto a necessidade de estar sempre muito informado sobre tudo que acontece no mundo, porque não aceito não saber de algo que alguém vem me contar… se eu não aceito perder nenhum episódio de podcast, série, vídeo ou qualquer que seja a mídia, porque não quero ficar “para trás”… se não aceito diminuir a meta de leitura do ano, porque vejo que estou com dificuldade de cumprir a atual… se digo “sim” para o novo trabalho que o chefe passou, mesmo sabendo que ainda tenho uns três para terminar essa semana… se resolvo pular a hora do almoço ou ficar até mais tarde no trabalho só para não esticar mais o prazo… se não aceito parar uma hora por semana para fazer a terapia e me cuidar… se me inscrevo em mais cursos e eventos do que sou fisicamente capaz de comparecer… se marco mais reuniões do que sei que deveria…

Nada disso é questão de ser “ocupado demais”. Foi tudo uma questão de escolha sua. Tal como era escolha de Sócrates escrever mais um livro, participar de mais uma sessão de dialética ou simplesmente aproveitar a sombra de uma figueira naquela tarde…

É claro que o mundo hoje exige mais de cada um de nós. Sim. A globalização e a revolução tecnológica de fato tornou as coisas mais rápidas e as informações muito mais acessíveis – é coisa demais e a impressão que temos é de estar sempre para trás, sempre atrasados, sempre com muita coisa a fazer, a ler, a cumprir… mas é só uma sensação.

Não existe ninguém capaz de consumir tudo que é produzido diariamente. Existe muito mais coisa ao seu alcance do que você será capaz de absorver – e é muito mais do que normal não conseguir. Eu diria até mesmo que é saudável!

Se é tudo uma questão de escolha, faça-as. Escolha dormir depois do almoço, ao invés de ler mais sei lá quantos capítulos ou artigos. Escolha brincar com seus filhos ao invés de mandar mais um e-mail. Escolha assistir pela décima terceira vez um filme com seu irmão pequeno, ou seu neto, ou seja quem for.

Escolha andar pela pracinha perto de casa sem motivo aparente, ou sem nem mesmo calcular quantos passos deu ou calorias perdeu – ande apenas por andar. Escolha ir à praia sem celular e dê um mergulho no mar – a quanto tempo não sente a onda bater em seu peito, lhe arrastando para fora?

Escolha sentar a beira de uma árvore e observar enquanto as folhas caem – sem obrigação de ter uma inspiração divina ou um momento de mindfullness, uma ideia multimilionária. Apenas por ócio.

Escolha tomar um banho demorado e parar para ler os rótulos dos produtos do banheiro. Escolha sentir os cheiros de cada um dos seus cremes e hidratantes. Escolha fazer uma maquiagem que salvou no Instagram e nunca tentou executar.

Escolha fazer uma receita que você nunca fez antes. Escolha oferecer um café da tarde para amigos ou sair para assistir um filme com sua mãe no cinema. Escolha ir almoçar com uma prima ou colocar uma música animada para limpar a casa.

Escolha esquecer de acionar o alarme e tirar as notificações do celular por uma tarde… escolha não estar sempre tão ocupado! Sempre haverá coisas para fazer, mas escolha, vez ou outra, deliberadamente viver, sem amarras.

 

Elo

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