Para quê isso?

Resolvi ir para o shopping com uma amiga para assistir um filme no cinema. Me arrumei, saí de casa, pedi um carro de aplicativo e esperei chegar. Assim que conferi a placa e entrei no carro, ouço do rádio já ligado uma chamada publicitária que fala sobre Janeiro Branco. Confesso que não dou muita atenção, tão absorta estou no meu celular, conversando com minha amiga para avisar que estou a caminho de encontrá-la.

Logo depois, o motorista puxa assunto, como quem quer fazer conversa fiada, e tenta chamar minha atenção com um comentário sobre o rádio…

— Eu não entendo esse negócio de Janeiro Branco. Todo mês agora tem uma cor!

Não estava muito no clima de explicar a importância da causa, então só fiz um grunhindo e acenei a cabeça. Mas ele continuou:

— Janeiro Branco é coisa de tratamento de doido, né? Eu não tenho isso não! Nunca precisei ir num médico de cabeça nem nada. Antigamente, isso nem existia. Pessoal hoje em dia é cheio de mimimi.

Aí, confesso, mesmo que não tenha despertado em mim a tal vontade de conversar, despertou um gatilho antigo e intenso. Baixei ainda mais minha cabeça e só respondi:

— Não é coisa de doido, não. É coisa de quem se preocupa com sua própria saúde e bem-estar. Eu acho super importante a campanha, exatamente para as pessoas desmistificarem ideias como essa. Faço terapia há bastante tempo, adoro e não vivo sem, ajudou muito na minha vida e nem sou “doida”.

Provavelmente, ele não soube mais o que responder, porque calou-se por todo o restante do trajeto. Na volta para casa, passei um tempo refletindo sobre essa conversa. Aquele homem não falou “por mal” ou com intenção de me machucar. Ele talvez nunca tenha entendido de fato do que se trata a Saúde Mental, qual a importância dos cuidados e prevenção dela e, ainda mais grave, trouxe essas ideias incutidas na sua mente desde que aprendeu com seus pais, seus avós, seus colegas, no ambiente e contexto em que vive.

Estruturalmente, a sociedade moderna ainda não vê a Saúde Mental com bons olhos. Nem os tratamentos, nem a preocupação acerca dela e, muito menos, a prevenção! Afinal de contas, porque se preocupar com algo assim, se você ainda não está “surtando” ou “enlouquecendo”, não é mesmo?

Aí que tá o ponto chave. Talvez, se a grande maioria das pessoas soubesse que dá para evitar o surto, dá para evitar a dor mais forte, dá para amenizar o turbilhão de sentimentos ruins… tudo isso ANTES de eles acontecerem, com ações um tanto quanto simples, como uma ida semanal à terapia, uma consulta com um psiquiatra, tirar um dia da semana para descansar, prestar atenção na qualidade do sono, entender seus gatilhos e aprender a comunicar seus sentimentos, entre tantas outras ações básicas…

A prevenção e os cuidados com a Saúde Mental importam sim! E importam muito! É através deles que situações conflituosas são evitadas, crises são amenizadas e inúmeros problemas resolvidos antes mesmo de se instalarem.

O que você prefere? Tomar cuidado para não se queimar quando perto de uma chama, ou agir de qualquer jeito e cuidar das feridas da queimadura depois que o pior acontecer? Fiz a analogia com o fogo, mas poderia ser com qualquer outra coisa! É sempre menos doloroso cuidar na prevenção do que no tratamento.

Janeiro Branco não é só mais um mês com cor no calendário da mídia. É o primeiro mês do ano, um livro em branco com 12 novos capítulos, 365 novas oportunidades de fazer acontecer o que você quiser! É o momento, a ficha limpa, a folha em branco, a chance que você precisava para parar um pouco a correria do dia a dia e prestar um pouco mais atenção a si mesmo – descansar, voltar-se para dentro, arrumar a mente, planejar o ano, cuidar da sua saúde mental.

Não deixe a si mesmo em segundo lugar. Você (a sua mente no controle) deve ser sua prioridade! Busque entender-se para cuidar-se. Você merece essa nova chance.

(Gabriella Maciel Ferreira)