QUANDO O CORPO NÃO OBEDECE
amarelosaudemental blogdaelo 8/12/22 12:09 PM Elo 3 min de leitura
Ontem, em meio a uma crise de ansiedade intensa, me faltou o ar.
Quanto mais eu pensava que tinha que me acalmar, mais sentia que o ar não conseguia entrar, mesmo que não houvesse, aparentemente, nada de “errado” com meu sistema respiratório. Eu estava só em casa e dizia para mim mesma em pensamento, repetidamente: “acalme-se, é ansiedade, é só respirar, respire, vamos, você consegue, acalme-se e respire”.
Por mais que tivesse o conhecimento – e até desejasse com todas as minhas forças – respirar normalmente, fazer o nariz puxar o ar e a boca soltar, praticar a respiração diafragmática ou a atenção plena, como minha psicóloga me ensinou a fazer… nada parecia funcionar o suficiente para eu sair daquela sensação desesperadora de estar presa, imersa numa poça de ansiedade, afogando-me nas próprias lágrimas.
Mas… afinal de contas, como fazer meu próprio corpo entender que eu não estava, de fato, com falta de ar, mas “apenas” com ansiedade? Para o meu corpo, ontem à noite, pouco importava se era asma ou sintoma de saúde mental. Ele estava sentindo – e sofrendo – do mesmo jeito. A falta de ar era sim real. Era tão real quanto palpável e estava experienciando de perto o ataque de nervosismo de querer respirar e não poder.
Já havia tentado de tudo. Tomei banho, e a falta de ar lá; segurei uma pedra de gelo, escutei música, desliguei as luzes, sentei-me na cama de frente para o ventilador, bebi um copo d’água, fiz carinho no meu pet, me deitei de bruços, coloquei mais travesseiros, usei óleos essenciais… e a ansiedade firme e forte, a falta de ar insistindo em permanecer.
Em dado momento, confesso, mesmo anos de terapia no currículo não foram capazes de conter a raiva que senti de mim mesma, do meu corpo, que teimava em não me ouvir.
Já imaginou, você, mandar seu corpo fazer algo, executar um comando – algo tão simples e corriqueiro quanto respirar normalmente – e ele se negar? Dizer, ainda, em contrapartida, que não pode, porque algo de ruim está prestes a acontecer – mesmo que todas as evidências reais indiquem que não. Se você conseguiu imaginar a cena, é porque talvez compartilhe comigo desse diagnóstico insano que é o Transtorno de Ansiedade.
Viver com Ansiedade é como viver dentro de um corpo que quase nunca lhe obedece. Por mais ilógico ou estranho que possa parecer para quem vê de fora, vivo num corpo que me desafia a todo instante, que me ataca sem aviso e que parece gostar de me pregar peças. É como se ser auto sabotador fosse seu único propósito – quando, de fato, deveria estar a meu serviço, me ajudando a lidar com as coisas difíceis da vida.
Na hora que mais preciso acreditar em mim mesma e na minha capacidade, na hora em que mais preciso de esperança e positividade… meu corpo vai entrar em alerta e começar a fazer torcida contra.
Ontem à noite, quando no ápice da crise de Ansiedade, já achando que ia desmaiar de tanta falta de ar, me irritei e comecei a esmurrar o travesseiro, gritando, frustrada. “Por que não consigo respirar? Por que você não pode respirar, só dessa vez? RESPIRA!”.
Não sei se foi o desabafo da raiva, se foi a junção das técnicas usadas para me acalmar anteriormente, o ansiolítico que a médica receitou para essas ocasiões que tomei, a atenção voltada ao livro que resolvi ler ou tudo junto… fato é que, eventualmente, minha respiração começou a funcionar corretamente e as coisas foram aos poucos voltando ao seu devido lugar.
Talvez esteja pensando o que me fez sentir assim ou que gatilho teria acionado uma crise tão intensa. Confesso que não sei. Às vezes até consigo decifrar o mistério, outras vezes, não consigo nem mesmo pensar no assunto. Mas sei que a Ansiedade é algo que faz parte de mim, mental e fisicamente, tanto quanto qualquer outra coisa.
Sei também que, não importa o quanto tente, não tem muito como lutar contra, como guardá-la numa caixinha e ignorar para ver se passa. Não. Ela estará sempre lá e fará questão de marcar território, do jeito que conseguir.
Às vezes, uma técnica e outra que aprendo funciona, outras vezes, preciso de todas juntas, algumas vezes ainda, nenhuma parece muito eficiente – porém, me sinto muito mais segura em saber que elas existem e estão a minha disposição, caso precise. Aceito minhas chances nessa loteria da Saúde Mental e vou tentando, uma atrás da outra, até alguma dar certo.
Como eu sei que, no final das contas, algo vai funcionar? Porque já sobrevivi a todas as minhas crises de Ansiedade, não importa o quão forte tenham sido! Quer prova maior do que essa de que sou capaz de vencer qualquer uma que ainda venha pela frente?