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QUANTO DE GATILHO É SUFICIENTE?

amarelosaudemental blogdaelo 8/12/22 11:58 AM Elo 3 min de leitura

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Gabriella Maciel Ferreira

Uma luz. Um clarão forte que me cegou e me desorientou, me tirando do eixo. Isso foi tudo que podia enxergar quando ouvi aquela frase fatídica. O pior de tudo, é que eu sou uma pessoa já um tanto quanto acostumada a ouvir esse tipo de coisa, sabe?

Mas, naquele dia em particular, as palavras soaram como pequenas e finas agulhas, que eram jogadas até mim com ímpeto de um atirador tático e me perfuraram com a força de lâminas feitas propositalmente para machucar – mesmo que, no fundo, eu soubesse que aquela pessoa nem tivesse tanta intenção assim de me fazer mal.

— O mundo é um lugar perigoso, meu pequeno… - lembro de minha bisavó me dizendo, em meio pacotes de farinha, enquanto cozinhava pães para o café da tarde.

Se vovó ainda estivesse por aqui, com certeza esse seria o momento em que iria telefonar, aparecer lá com um bolo de milho e me sentar para conversar sob uma xícara de café… mas desde que vovó se foi, isso não é mais possível. Às vezes, me pego pensando se o lugar para onde ela foi tem café quentinho… tomara que sim, porque era uma das coisas que ela mais amava no mundo, e isso pode significar que esteja em seu paraíso.

Mas… por que estou mesmo pensando na vovó??? Ah, sim! O clarão. Minha cabeça funciona de um jeito engraçado, que não consegue seguir uma linha reta de pensamento, sabe?! E é difícil manter-me numa questão de cada vez…

Quando eu tinha uns sete ou oito anos de idade, lembro que fui para um passeio da escola com todos os colegas, aonde fomos para uma viagem de trem. Maria-Fumaça, para ser mais correto! Nesse dia, estávamos todos muito empolgados com aquele passeio, eu, em particular, nunca tinha andado ainda de trem e me sentia extremamente ansioso pelo momento.

Estava tremendo de nervoso e com suor nas mãos quando vi o maquinista se aproximar ao longe, gritando: “todos a bordo!”. Foi uma histeria coletiva. Uma multidão de crianças correndo por todos os lados, gritos, dos altos aos finos, todos misturados na confusão, e as professoras, que tentavam em vão coordenar uma fila única para embarcar no trem.

Lembro de estar segurando a mão de uma professora, puxando o braço para perguntar se havia perigo do trem cair, quando um grito de desespero se destacou entre a euforia. Uma menina de uma turma um pouco mais nova que a minha tinha tropeçado e caído na linha do trem… e a professora com quem estava soltou minha mão, levou até a cabeça e saiu gritando para tentar ajudar.

Naquele dia, não aconteceu nada com a tal menina. Um dos caras que trabalhava na plataforma rapidamente pulou e tirou a menina de lá. Depois do susto, todos entramos no trem e fomos realizar o passeio.

Mas, no dia que ouvi aquela frase sair da boca da pessoa que eu mais admirava no mundo inteiro… senti como a tal menina, como se caísse num túnel escuro de trem, com o trem já se aproximando, indo em direção a mim. Daí, você deve imaginar, o clarão.

— Aqui não é lugar para doidinho! Está doente, procure um médico. Aqui a gente trabalha sério, a gente entrega resultado! – disse meu gestor, meu mentor, meu ídolo profissional.

Eu estava a algum tempo nesse trabalho, e conhecia o jeito durão do meu chefe. Ele é o melhor no que faz, e não deixa barato para competidor nenhum. Entrega os melhores resultados e gosta de treinar sua equipe para alcançar sonhos – é um exemplo para mim.

Mas, naquele dia que soltou essa frase… naquele dia que, enquanto visava me encorajar a melhorar a minha performance, acabou cutucando com uma vara quente a minha ferida mais profunda… eu não consegui. Não consegui manter a compostura, não consegui almoçar, não consegui mais reorganizar meus pensamentos, não consegui bater o ponto no final do expediente, não consegui nem mesmo contactar os meus clientes. Tudo que tinha programado fazer, foi por água abaixo e eu só conseguia pensar naquilo. Ficava repetindo a frase mil vezes na minha mente.

Engraçado como bastou tão pouco para me tirar de mim, não é?! É… um dos muitos contras de ter um transtorno mental tipo o que eu tenho! Eu pego as coisas mais aparentemente insignificantes e minha mente as transforma em grandes monstros com os quais preciso lidar – mas que me assustam um bocado. Será que, se meu chefe soubesse que tenho um transtorno mental crônico, que não tem uma “cura” ou um afastamento de um mês vai resolver, ele me trataria da mesma forma? Será que ainda teria meu emprego?

Sim, bastou uma frase, e foram estes os questionamentos que surgiram na minha mente. Às vezes, uma frase é o bastante. É gatilho mais que o suficiente para acabar o dia de alguém.

 

Elo

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