O QUE VOCÊ REALMENTE QUERIA DIZER?
1/2/24 11:12 AM Elo 2 min de leitura
Por Gabriella Maciel
Enquanto tento elucubrar o que escrever no documento do trabalho, encaro a página em branco, a piscar de volta para mim, impaciente… “o que você realmente queria dizer?”, a tela parece gritar, silenciosamente, enquanto tento me concentrar no trabalho a fazer, o relógio tiquetaqueando o prazo na minha cara.
Foi então que desisti de lutar contra meus próprios instintos e resolvi escrever esse texto, ao invés do que deveria estar fazendo…
“O que eu queria dizer? Se eu pudesse dizer algo para o mundo inteiro, o que ia querer dizer?”, pensei. Acho que, se alguém estivesse a fim de ouvir, diria que estou cansada. Até porque, viver é extremamente cansativo. A vida adulta é extremamente cansativa. Lidar com demandas do trabalho, resolver afazeres domésticos, cultivar relacionamentos, cuidar de outras pessoas que precisam da gente, manter uma dieta saudável, fazer exercícios físicos regularmente, meditar, estudar outra língua, atualizar-se das notícias do mundo, lembrar de descongelar a carne para o almoço do dia seguinte… é coisa demais. E, com o passar do tempo, pode ser extremamente cansativo.
Não é para menos que tem tanta gente com a Saúde Mental em frangalhos. Até porque, no meio de tanta correria, tanta coisa para dar conta e tantas listas de tarefas para cumprir, além de todas as pressões sociais de estar sempre em forma e performando feliz nas redes sociais, ninguém mais parece ter tempo ou espaço na vida para olhar para dentro de si. Para se olhar no espelho e refletir sobre quem se é. Para tirar um tempo para descansar, relaxar, se curar daquelas feridas que vão se acumulando com o passar dos dias, do cotidiano duro da vida.
No passado, o ócio criativo era algo mais simples, mais fácil de ser atingido. Bastava balançar numa rede no final de tarde do domingo, observar o pôr-do-sol na areia da praia, contando as ondas a bater na costa.
Hoje em dia, é preciso “desconectar”, fazer “detox”, se proibir de checar as notificações. Pôr o celular no silencioso. Desligar-se. Mas desde quando nós funcionamos por eletricidade? Ou pior, via wi-fi? Porque precisamos desconectar, se nunca fomos conectados para início de conversa? Viramos robôs, por acaso? Dependentes dos fios, da energia elétrica, das ondas e da teia da internet?
Eu sei. Eu sei que cuidar da Saúde Mental não é tarefa fácil. Eu sei, porque eu mesma já negligenciei muito essa questão da minha vida. Deixei para depois, para quando estivesse com mais tempo livre. Para quando as coisas estivessem mais tranquilas. Para quando eu não estivesse com tanta coisa acumulada, tanta roupa para lavar, tantos e-mails para mandar. Passei tempo demais deixando para depois e, quando o depois chegou, era tarde demais – e acabei percebendo que perdi a oportunidade enquanto ela ainda existia.
Agora, cá estou, cansada, exausta. Nossa, e como estou exausta! “Exausta de quê?”, você pode estar se perguntando…
Estou exausta de existir, de ser, tão somente. Exausta de ter que lidar com questões dolorosas concomitantemente com a vida cotidiana, tão atarefada e corrida, tão cheia de preocupações e estresses.
Por isso que, se tivesse a oportunidade de mandar um recado só para o mundo inteiro, diria: parem. Parem um tempo, respirem fundo, contem até dez, fechem os olhos e olhem para dentro de si. Se vejam, tentem se entender, conversem consigo mesmo, se perdoem, se deixem descansar, se permitam precisar de ajuda, se cuidem, se levem para a terapia, se deem um tempo para apenas existir, sem cobranças e pressões, sem ter que ter, sem ter que cumprir ou alcançar nada. Apenas ser.